Ex-bolsista do Observatório é eleito para diretoria do Clube de Criação, em chapa formada totalmente por pessoas negras

O pesquisador, publicitário graduado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e ex-bolsista do Observatório da Mídia Epaminondas Paulino* foi eleito na última segunda-feira, 25 de outubro, para assumir a Diretoria de Cultura do Clube de Criação, em São Paulo, uma das principais entidades de valorização da publicidade brasileira.

Ele foi um dos integrantes da Chapa Preta, formada integralmente por pessoas negras do mercado publicitário nacional, que comandará o Clube de Criação nos próximos dois anos. A proposta foi de mudanças urgentes com foco na diversidade, equidade e inclusão na indústria das mídias. A Chapa Preta foi eleita com 62% dos 166 votos dados.

Pela primeira vez desde a fundação em 1975, a entidade será presidida por mulheres negras, com Joana Mendes na presidência e Gabriela Moura como vice-presidenta. Joana é fundadora do YGB.black, primeiro banco de imagens do mundo feito com e por mulheres negras, e Gabriela é co-autora do livro “#MeuAmigoSecreto: Feminismo além das redes”.

Ao longo de sua história, o Clube de Criação teve apenas pessoas brancas na presidência até então, sendo que 20 delas foram homens e apenas duas mulheres. Foi criado por publicitários para preservar o patrimônio e valorizar a criatividade da no mercado publicitário brasileiro, tendo como principais ações o Anuário e o Festival do Clube de Criação, que envolve premiações e palestras com profissionais internacionais e nacionais.

Com o lema de que a diversidade alimenta a criatividade, a nova diretoria pretende, entre suas diversas propostas, realizar parcerias com entidades nacionais e internacionais para promover dados e ações em torno da diversidade e ainda incentivar o aumento de pessoas negras associadas ao Clube; criar um conselho colaborativo voltado para debater questões da criatividade e publicidade, englobando pessoas pretas, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e refugiados. Também pretendem ampliar a diversidade regional, alcançando e valorizando estudantes, profissionais e instituições de fora do eixo Rio-São Paulo. Todas as propostas podem ser acessadas no Instagram da Chapa ou no site do Clube de Criação.

 

A desigualdade racial na publicidade

 

O novo diretor de Cultura Epaminondas Paulino traz em sua trajetória profissional e acadêmica o foco no debate sobre a inclusão de pessoas negras nas agências publicitárias. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, defendido em 2017 na Ufes, com orientação de Janaina Leite, ele levantou dados que revelam a presença seletiva dos profissionais negros nas agências mais premiadas do Espírito Santo, entre 2011 e 2015. Além de indicar a baixa representatividade negra no setor, o estudo mostrou, por meio de entrevistas de profundidade, diversas práticas de racismo na rotina das agências. Atualmente, Epaminondas é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP) e redator na agência Mutato.

O momento inédito de representatividade negra, na principal entidade de profissionais da publicidade brasileira, reforça a necessidade de debates e mudanças na desigualdade racial que marca historicamente as campanhas publicitárias e o mercado da comunicação do país. Tal como demonstra o estudo “Diversidade na Comunicação de Marcas em Redes Sociais”, realizado pela Elife e a Agência SA365, pessoas pretas e pardas são representadas em apenas 38% do total dos anúncios analisados. A falta de representatividade se reflete ainda mais dentro das agências publicitárias, em que a população negra ainda é minoria nos postos de trabalho. Dados levantados pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper mostram que pessoas negras ocupam cerca de 15% entre diretores e cargos estratégicos do setor publicitário, seguidos por 21% em gerências, e 31,7% em outras funções.

Tal realidade é contextualizada em diversas pesquisas acadêmicas, desenvolvidas inclusive no Observatório da Mídia, tal como a dissertação “A mulher negra nas embalagens de cosméticos para cabelos crespos e cacheados”, que revela a falta de afirmação identitária de mulheres negras nas publicidades desses produtos, defendida por Juliana Bellia Braga em 2020, sob a orientação de Flávia Mayer, no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades da Universidade Federal do Espírito Santo(PósCom-Ufes).

A eleição da Chapa Preta para o Clube de Criação é merecedora dos parabéns deste Observatório da Mídia, e a trajetória traçada por nosso ex-bolsista Epaminondas Paulino só nos enche de orgulho.

 

(*) Epaminondas Paulino aparece em destaque, no alto, à direita, na foto da Chapa Preta que editamos.

 

Texto de Laís Rocio (Observatório da Mídia/PósCom-Ufes).

Publicado em 26/10/2021, às 21h.

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